Fonte: Valor Econômico
A Estácio, segunda maior empresa de ensino superior do país, deve enfrentar nesta semana uma sabatina de acionistas e investidores estrangeiros por conta de emails traçando estratégias para barrar a fusão com a Kroton, a líder do setor. As mensagens, cuja veracidade está sendo investigada pela Estácio, são de seu presidente Pedro Thompson, conforme antecipou na quintafeira o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Nesta semana, Thompson e o presidente do conselho da Estácio, João Cox, realizam encontros (“road show”), nos Estados Unidos, com cerca de 20 investidores e acionistas. Entre eles, os fundos Oppenheimer e Capital, que detém 17% e 5%, respectivamente, da companhia carioca. A participação de um presidente de conselho nesse tipo de reunião não é comum e causou estranheza entre analistas. No entanto, as reuniões já estavam marcadas há tempos.
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Os acionistas estrangeiros devem questionar sobre as investigações em torno dos emails. Na sextafeira, a Kroton cobrou, em comunicado ao mercado, o resultado das investigações prometidas pela Estácio em fato relevante, divulgado no mesmo dia. Segundo fontes, o presidente da Kroton, Rodrigo Galindo, está bastante irritado porque os emails nos quais Thompson discute estratégias para barrar a fusão, enviados anonimamente à sede da Kroton, foram entregues a Cox em 16 de fevereiro, há mais de um mês. Segundo uma fonte, dentro da Estácio não há dúvidas de que Thompson escreveu as mensagens.
Thompson, de acordo com os emails a que o Valor teve acesso, defende fazer denúncia de “gun jumping” (no caso, a Kroton estaria interferindo na gestão da Estácio) ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para derrubar a transação. Mas essa estratégia é considerada fraca pela Demarest, escritório de advocacia contratado para assessorar a Estácio. “Cade não vai anular o protocolo por gun jumping, só os atos praticados de implementação prematura eventuais contratos de distribuição, fornecimento, contratos com alunos que tiverem sido feitos já pela KT [Kroton] no lugar da Estácio. Coisa que sabemos que não aconteceu. Vamos ter dificuldade de emplacar isso”, escreveu a advogada Paola Pugliesi, advogada da Demarest, escritório que foi dispensado pela Estácio na sextafeira. Ela sugere, entre outras coisas, criticar a política da Kroton em relação ao Fies. “Concordo com seu argumento, mas peço que reflita o seguinte ponto: o gun jumping (com base em tudo que tenho) é muito mais factual do que o Fies. Por mais que o Fies seja ‘batom na cueca’, até agora não tivemos indícios de regulador ou até mesmo do judiciário”, escreve Thompson, afastado do grupo que negocia os termos da fusão com a Kroton.
Entre as sugestões feitas pela Demarest há ainda: “mídia bombardear notícias deletérias à imagem da KT [Kroton], de forma a criar desconforto no Cade com a aprovação do deal (operação)”. Também foi proposto fazer os grupos de ensino, que entraram como terceiros interessados no processo do Cade, denunciar a Kroton por “gun jumping”.
Nos próximos dias, segundo uma fonte, o Cade e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) devem pedir explicações às empresas
Outro ponto que os acionistas estrangeiros devem questionar Cox é sobre a participação do conselho da Estácio na possível tentativa de obstrução da fusão com Kroton, uma vez que 99,67% dos acionistas da companhia carioca aprovaram a operação. No Brasil, esse é o principal questionamento dos investidores e analistas. As ações de Estácio e Kroton fecharam o pregão de sexta-feira com queda de 4,89% e 3,31%, respectivamente.