Paulo Antonio Gomes Cardim preferiu correr o risco de perder alunos, despertar a hostilidade de traficantes e de ver o nome da instituição que dirige ligada ao uso de drogas. Mas criou serviços de orientação e atendimento a dependentes e avisou a polícia. Imaginou que, se os estudantes usavam maconha e cocaína, também deveria haver por perto um ponto de tráfico.
“Adotei a posição de cidadão”, diz o reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. “Trabalho com educação, não vendo batatas”.
Com três mil alunos no câmpus da Vila Mariana, na Zona Sul, Cardim acredita ser hipocrisia esconder que a droga, hoje, faz parte do universo estudantil: “Não podemos nos comportar como avestruzes e fugir da realidade. Se nós, que somos formadores de opinião, nos acovardarmos na solução desse problema, seremos cúmplices dos traficantes”.
Faz três anos que, diante da droga cada vez mais próxima, o reitor implantou dois serviços no Centro Universitário, que abriga a Faculdade de Belas Artes: lá existem o Serviço de Orientação Pedagógica e o Serviço de Atendimento Psicopedagógico, para onde são encaminhados os alunos flagrados usando droga.
Para fechar o ciclo, ele próprio procurou o Departamento de Narcóticos (Denarc) e mantém um bom relacionamento com os policiais. “Aqui dentro, faço a minha parte. Sei que esse problema existe na minha escola e que tem que ser tratado preventivamente. Se não tivermos o diálogo com os alunos, os perderemos para as quadrilhas. Mas o que a polícia faz lá fora eu não sei.” O delegado Pedro Luiz Pórrio, do 1º Núcleo de Proteção e Apoio à Escola, no entanto, informou que, em outubro passado, sua equipe prendeu um traficante, perto da faculdade, com porções de cocaína prontas para a venda.
Paulo Cardim acredita que tomou a atitude correta. “Há dois tipos de reitores e diretores. Os que mentem por covardia ou desconhecimento e os que assumem uma posição. A droga é um problema globalizado e é muito mais grave nas classes média e média alta. Sei que, com esse trabalho de orientação e prevenção, não vamos eliminar a droga, mas estou fazendo o
que é necessário. Vejo que a faixa etária dos consumidores esta diminuindo e que a droga virou modismo no meio universitário. Se o aluno não estiver envolvido com ela, fica fora do grupo.”
O reitor acredita que os estudantes têm acesso às drogas em pontos de venda da região: “È claro que deve existir tráfico nas proximidades, já que aqui é um pólo de escolas de nível superior. Mas não posso ter receio de represálias de traficantes porque acredito no Estado de direito. E, na minha posição, tenho o apoio de todos os pró-reitores e dos 12 coordenadores de cursos.”
Cardim também não teme a possibilidade de alguns pais, diante da revelação de que a droga é uma realidade no ambiente universitário, querem ver seus filhos fora da Belas Artes: “Isso não me preocupa. Se eles quiserem ignorar esse fato, o problema é deles, não meu. Minha parte está sendo feita.”
Marinês Campos – Jornal da tarde
Caderno A – Especial – Página:18 – 2/3/2004
REITOR ADMITE: ”AQUI HÁ DROGA”
Paulo Antonio Gomes Cardim – Reitor
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